segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

O que ninguém quer ouvir (ou falar) do carnaval de Vitória

Lá se foi o tempo em que o desfile das escolas de samba era tão somente uma manifestação cultural brasileira. Hoje é uma indústria, que como todas as demais, tem como função principal auferir lucros e, no caso, também entreter a população. Quando falo em lucro não estou apenas me referindo a um objetivo financeiro. Com o carnaval é possível também obter dividendos negociais, pessoais, eleitorais e mercadológicos. Há uma cadeia de benefícios para quem investe na cultura. E o carnaval é o senhor dos dividendos não financeiros.
Ganham políticos, aspirantes a políticos, ganham empresários/fornecedores de serviços (desde o ambulante, indústria de bebidas, alimentação, serviços de decoração, roupas (fantasias), até a hora extra dos garis que limpam a passarela do samba após a passagem de uma escola). Eletricistas, seguranças, bailarinos, costureiras, sapateiros, fotógrafos, jurados, maquiadores, cabeleireiros, artistas, taxistas, motoristas e montadores são profissionais requisitados nesse período. Ganha também quem quer continuar a ser presidente de escola, quem quer derrubar presidente de escola; é possível conquistar good wiil (boa vontade) com quem é convidado para camarotes e com isso facilitar o fechamento de um bom negócio; pode-se ganhar um novo amigo e fixar a marca de uma empresa, associando-a ao espetáculo.

É, portanto uma cadeia de ganhos que se entrelaçam sucessivamente com o fim único de promover a satisfação de todos aqueles que se enternecem com o espetáculo carnavalesco.

Para que tudo isso funcione a contento é preciso nada mais nada menos do que muito profissionalismo. E não é isso que se observa no desfile das escolas de samba de Vitória em sua integralidade. É notório que houve um substancial crescimento na capacidade das escolas apresentarem um grande espetáculo, em especial das duas grandes escolas que se sucedem no campeonato dos últimos anos, a Jucutuquara e a MUG. Fora elas, as demais disputam de fato outro campeonato, com destaque para Barreiros, Piedade e Novo Império. Por que esse desnível? Porque a Jucutuquara e a MUG estão a alguns passos à frente? Para essas perguntas há apenas uma resposta: são elas que se profissionalizaram primeiro.

A organização do evento, a cargo da Liga das Escolas de Samba teve que correr atrás das escolas e buscar melhor eficiência. Contrata bambas da samba carioca e paulista para a realização de oficinas, assim como traz jurados “profissionais” das mesmas cidades, que hoje comercializam esses serviços. Uma profissionalização a “fórceps”.

A prefeitura de Vitória passou por uma experiência única. Do ocaso do samba, na administração Paulo Hartung, que suspendeu a realização dos desfiles, à retomada triunfal no Governo que Luiz Paulo, que o sucedeu, retomou a festa e inaugurou a antecipação da data dos desfiles, foi uma rica experiência. A PMV teve que reaprender a fazer o carnaval e todas as suas injunções, como a venda de ingressos, mesas e camarotes que só este ano funcionou a contento. Perdeu-se um tempo precioso de profissionalização.
Tudo isso mostra que o profissionalismo é a pedra fundamental de um evento dessa natureza. Pois, com ele crescem as escolas, oferece-se uma infraestrutura que seja aprovada com antecedência pelo Corpo de Bombeiros e que ordem dos desfiles seja cumprida, coisas que não ocorreram no desfile deste ano.

E o que dizer da transmissão pela TV Capixaba e TVe? Também um fiasco igual? Este ano a animosidade entre os dois canais foi flagrante. A apresentadora da TVe dizia: “Aqui não tem oba oba, temos conteúdo”, a que respondia o apresentador da Capixaba: “nossa transmissão não dá sono e não temos paixão”. E o que se viu ou não se viu, ou se ouviu ou não se ouviu foi uma catástrofe. Da emissora que tem conteúdo não se ouvia muito bem o samba enredo e da que não dava sono, muito por conta da gritaria insana do apresentador, via-se um desfile despedaçado, com imagens que não sustentavam a narração frágil e que não permitiam ao espectador compreender a narrativa do desfile. Também no caso das TVs o profissionalismo padece.

Chegou a hora de união de forças. O Sambão do Povo precisa estar pronto para o carnaval com antecedência. As escolas precisam voltar a ser divididas em categorias para incentivar o estabelecimento de metas e o surgimento de novas agremiações e a transmissão pela TV precisa discutir um pool organizado. Tudo para que os dividendos possam de fato ser obtidos.

2 comentários:

Dino Gracio disse...

TODAS as "escolas de samba" que desfilam no Sambão do Povo deveriam rodar a baiana da timidez e aderir de uma vez por todas ao que querem ser, mesmo: uma escola de samba carioca.
Assim, a cada ano, poderiam desfilar juntas no Sambódromo,Rio, a representar o Espírito Santo, SEMPRE com o slogan:
"Carnaval é capixaba, o resto é peixada."
O samba enredo versaria, todos os anos, sobre a moqueca OU torta capixaba.

LP Camisasca disse...

bello!

un abbraccio,

LP