sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

O futuro que se espera para o TJ


A gestão de crises é uma ciência nova, associada à comunicação corporativa, mas que está diretamente ligada a administração (de empresas ou instituições públicas) e à verdade (leia-se ética). O Espírito Santo vive hoje uma crise grave gerada por elementos do Poder Judiciário, um poder poderosíssimo, (desculpem os leitores a redundância) que exige uma competente gestão de crise.

Em processo de sangramento público há um ano o Tribunal de Justiça é alvo de uma devassa, que ao abrir sua “caixa preta” (comprovação de venda de sentenças e, principalmente, da suspensão do sigilo processual) descortinou doutos desembargadores se engalfinhando em negociatas inomináveis. Aos capixabas foi escancarado o quanto desembargadores e juízes se veem acima do bem e do mal, (abaixo somente de Deus) a desafiar toda e qualquer ética e a usar expressões tão chulas como é comum na Casa de Passagem, por pura ganância, para defender o “seu”.

Analisada sob o prisma da gestão de crise, o fim dessa patuscada ainda está longe, na medida em que apenas um membro dessa camarilha foi julgado, faltando, pois, todos os demais (e não são poucos). Quanto tempo mais irá sangrar o egrégio TJ aos olhos atentos do cidadão contribuinte? O que fazer para o TJ recuperar sua imagem de ser a mais elevada corte de “justiça” do Estado?

Este cidadão ainda não se pronunciou, mas o governador do Estado já pediu tranquilidade à população. Nem mesmo o portal gazetaonline permitiu comentários em suas matérias sobre o caso, que poderiam mostrar o nível da indignação pública. Uma pena.

Ao espectador comum é possível que a crise seja esquecida um dia ou, para outros, seja sempre lembrada como marco, de tal forma que nunca mais na história se repita corrupção desta monta. De um jeito ou do outro a gestão de crise deve agir desde já, e não pode ser apenas uma atividade de comunicação corporativa, mas de todo um conjunto de forças interessadas em salvar a imagem do TJ, pois do contrário sobrará ao cidadão confiar apenas na justiça divina.

E as primeiras destas forças estão dentro do próprio TJ que julgarão seus pares. Não defendo o rito sumário, mas a agilidade dos processos é essencial para estancar o sangramento, que não pode se alongar por semanas ou meses. Na medicina o paciente que perde muito sangue corre o risco de chegar rapidamente ao óbito e aí nem gestão de crise dá jeito. Mas estancar o sangramento não é suficiente, precisa vir acompanhado de atitudes que possam curar tamanha ferida e cicatrizá-la adequadamente.

É certo que a Justiça capixaba se viu nessa situação. Por isso as ações futuras serão inéditas e vão carecer de homens íntegros, que estejam dispostos a realizar uma operação limpeza que fique muito clara aos olhos da sociedade capixaba.

A eles será requisitado questionar sobre a revisão das decisões dos doutos desembargadores e juízes envolvidos que, segundo as denúncias, sofreram interferências inconfessáveis. Rever as decisões será uma atitude importante para a imagem da corte, mas tão importante quanto será a verificação em instâncias inferiores se houve ou não uma contaminação por decantação. Afinal a corrupção costuma fazer escola e se reproduzir em outros níveis, como o “mensalão” no Poder Executivo.

Lembro-me de uma piada antiga que me foi contada pela querida Glecy Coutinho, que dizia que é preciso tomar cuidado ao dirigir, pois caso apareça uma bola rolando na avenida pode vir atrás não uma inocente criança, mas um fiscal da prefeitura ou um juiz.

Mudar a leitura inconsciente que a população faz do Poder Judiciário é tarefa árdua e precisa de homens sérios e fortes, que não deixem o barco naufragar, afinal a Justiça pode ser cega, mas nunca paralítica.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

O que ninguém quer ouvir (ou falar) do carnaval de Vitória

Lá se foi o tempo em que o desfile das escolas de samba era tão somente uma manifestação cultural brasileira. Hoje é uma indústria, que como todas as demais, tem como função principal auferir lucros e, no caso, também entreter a população. Quando falo em lucro não estou apenas me referindo a um objetivo financeiro. Com o carnaval é possível também obter dividendos negociais, pessoais, eleitorais e mercadológicos. Há uma cadeia de benefícios para quem investe na cultura. E o carnaval é o senhor dos dividendos não financeiros.
Ganham políticos, aspirantes a políticos, ganham empresários/fornecedores de serviços (desde o ambulante, indústria de bebidas, alimentação, serviços de decoração, roupas (fantasias), até a hora extra dos garis que limpam a passarela do samba após a passagem de uma escola). Eletricistas, seguranças, bailarinos, costureiras, sapateiros, fotógrafos, jurados, maquiadores, cabeleireiros, artistas, taxistas, motoristas e montadores são profissionais requisitados nesse período. Ganha também quem quer continuar a ser presidente de escola, quem quer derrubar presidente de escola; é possível conquistar good wiil (boa vontade) com quem é convidado para camarotes e com isso facilitar o fechamento de um bom negócio; pode-se ganhar um novo amigo e fixar a marca de uma empresa, associando-a ao espetáculo.

É, portanto uma cadeia de ganhos que se entrelaçam sucessivamente com o fim único de promover a satisfação de todos aqueles que se enternecem com o espetáculo carnavalesco.

Para que tudo isso funcione a contento é preciso nada mais nada menos do que muito profissionalismo. E não é isso que se observa no desfile das escolas de samba de Vitória em sua integralidade. É notório que houve um substancial crescimento na capacidade das escolas apresentarem um grande espetáculo, em especial das duas grandes escolas que se sucedem no campeonato dos últimos anos, a Jucutuquara e a MUG. Fora elas, as demais disputam de fato outro campeonato, com destaque para Barreiros, Piedade e Novo Império. Por que esse desnível? Porque a Jucutuquara e a MUG estão a alguns passos à frente? Para essas perguntas há apenas uma resposta: são elas que se profissionalizaram primeiro.

A organização do evento, a cargo da Liga das Escolas de Samba teve que correr atrás das escolas e buscar melhor eficiência. Contrata bambas da samba carioca e paulista para a realização de oficinas, assim como traz jurados “profissionais” das mesmas cidades, que hoje comercializam esses serviços. Uma profissionalização a “fórceps”.

A prefeitura de Vitória passou por uma experiência única. Do ocaso do samba, na administração Paulo Hartung, que suspendeu a realização dos desfiles, à retomada triunfal no Governo que Luiz Paulo, que o sucedeu, retomou a festa e inaugurou a antecipação da data dos desfiles, foi uma rica experiência. A PMV teve que reaprender a fazer o carnaval e todas as suas injunções, como a venda de ingressos, mesas e camarotes que só este ano funcionou a contento. Perdeu-se um tempo precioso de profissionalização.
Tudo isso mostra que o profissionalismo é a pedra fundamental de um evento dessa natureza. Pois, com ele crescem as escolas, oferece-se uma infraestrutura que seja aprovada com antecedência pelo Corpo de Bombeiros e que ordem dos desfiles seja cumprida, coisas que não ocorreram no desfile deste ano.

E o que dizer da transmissão pela TV Capixaba e TVe? Também um fiasco igual? Este ano a animosidade entre os dois canais foi flagrante. A apresentadora da TVe dizia: “Aqui não tem oba oba, temos conteúdo”, a que respondia o apresentador da Capixaba: “nossa transmissão não dá sono e não temos paixão”. E o que se viu ou não se viu, ou se ouviu ou não se ouviu foi uma catástrofe. Da emissora que tem conteúdo não se ouvia muito bem o samba enredo e da que não dava sono, muito por conta da gritaria insana do apresentador, via-se um desfile despedaçado, com imagens que não sustentavam a narração frágil e que não permitiam ao espectador compreender a narrativa do desfile. Também no caso das TVs o profissionalismo padece.

Chegou a hora de união de forças. O Sambão do Povo precisa estar pronto para o carnaval com antecedência. As escolas precisam voltar a ser divididas em categorias para incentivar o estabelecimento de metas e o surgimento de novas agremiações e a transmissão pela TV precisa discutir um pool organizado. Tudo para que os dividendos possam de fato ser obtidos.